
Durante todo o governo Temer, a gente ouviu quase dia sim, dia não, que a reforma da Previdência era essencial para evitar a explosão da dívida pública e o corte de gastos essenciais.
A reforma estava moribunda. É rejeitada pela maioria da população e pelos políticos, que temem não ser reeleitos caso votam a mudança nas aposentadorias. Sem cargo, mais político corre o risco de ir para a cadeia. Pois bem. A Constituição proíbe a aprovação de emendas constitucionais enquanto houver intervenção federal em algum Estado, como esta que o governo acaba de decretar no Rio.
Mas o governo diz que vai dar um jeitinho. Diz que pode suspender a intervenção por um tempinho, para votar a reforma. Mas intervenção federal não é brincadeirinha, tem regras, não pode ser suspensa a torto e a direito. Muito jurista acha que suspender a intervenção para dar um jeitinho e votar a reforma também é inconstitucional?
Como ficamos? O governo Temer ainda não deixou claro como vai fazer a gambiarra. Talvez queira deixar a reforma morrer, mesmo.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, deu a entender que não acredita no jeitinho.
Seja como for, o governo Temer arrumou um jeito de redefinir o debate político no país. Mesmo que a intervenção no Rio fosse uma necessidade, aproveitou-se da situação para lançar seu programa para o resto de seu último ano, um programa eleitoral. O governo já pensava em aparecer uma “agenda positiva”, planos e propaganda de ações na área de segurança pública.
O objetivo, claro, era diminuir a rejeição do eleitorado, fulo com Temer por causa das reformas e da situação econômica ainda péssima.
O programa começaria por agora mesmo, para atenuar o fracasso com a derrota da reforma da Previdência. O caos no Rio juntou a fome com a vontade de comer. Daqui por diante, o governo iria deixar os planos econômicos mais em segundo plano. A única esperança do governo nessa área é que a economia comece mesmo a despiorar mais rápido. Na falta de novidades econômicas, o caso é tratar de segurança, que de fato piorou ainda mais com a crise.