Na TV, nas ruas ou nas redes sociais, a gente tem ouvido muita acusação política ou mesmo maluquices puras sobre a responsabilidade dessa desgraça que aconteceu em São Paulo, o incêndio e desabamento do edifício ocupado por sem-teto.
Essa desgraça específica tem lá suas causas mais imediatas, motivos detalhados. Mas, no fundo, desculpem a obviedade, esse desastre acontece simplesmente porque as pessoas não têm onde morar. A falta de casa decente em lugar decente é um problema velho, chamado pelo apelido feio de “déficit habitacional”. Era um problema velho e grande, tem piorado e vai piorar mais, por alguns anos. Muita gente não tem renda, salário, emprego. Os governos estão quase quebrados e vão ficar assim por alguns anos. Por exemplo, o dinheiro que o governo federal gasta hoje no Minha Casa, Minha Vida é um sexto do que gastava no final do governo Dilma Rousseff. Caiu de uns 18 bilhões por ano para 3 bilhões, por aí. O Minha Casa, Minha Vida, um programa de construção dedicado especialmente a casas populares, não é bem uma solução boa, ainda menos para uma metrópole como São Paulo. Esse programa faz as pessoas morarem muito longe, um barato que sai caro. Custa dinheiro levar transporte, saneamento, luz e outros serviços para esses lugares. As pessoas perdem a vida inteira dentro de trem e ônibus, quando têm emprego. Os bairros do Minha Casa, Minha Vida podem marginalizar essas populações, como em muito conjunto habitacional que virou refém do crime.
Mas é melhor do que nada, em muitos casos. Em São Paulo, falta investimento em moradia e em recuperação de moradias em áreas centrais. Falta cobrar imposto pesado de quem deixa prédio vazio.
As pessoas querem morar dentro da cidade. Sem dinheiro, sem investimento público e sem impostos para aumentar a oferta de moradias ora vazias, as pessoas vão para ocupações, cortiços, favelas, barraca de rua. O resto da desgraça é decorrência disso. Sem investimento estatal, sem política de impostos e sem planos de atrais empresas privadas para bairros centrais degradados, não se resolve. O resto é discussão de detalhe.