Um palestino morto e mais duas centenas de feridos. É um balanço quase modesto, nesta sexta-feira, depois da decisão de Donald Trump, de transferir a embaixada americana em Israel, de Telavive para Jerusalém. E digo mais. Os protestos demonstraram da divisão entre os próprios palestinos. A Autoridade Nacional Palestina, que é laica e que controla a Cisjordânia, colocou a polícia na rua para conter os excessos. Sem querer, ela virou força auxiliar do exército de Israel. O Hamas, ao contrário, partiu para a radicalização na Faixa de Gaza. O Hamas é um grupo religioso. Estava há seis meses se aproximando da autoridade palestina de Mahmoud Abbas. Uma aproximação agora comprometida. Abbas sabe que, se aceitar uma aliança com os radicais religiosos, ele perde o controle político da Palestina. Ele iria atrair os xiitas do Hizbollah, e os sunitas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Por isso, é apenas superficial a unidade dos muçulmanos contra Trump. As manifestações de hoje no Afeganistão, Turquia, Irã, Jordânia, Egito, Líbano e Paquistão foram um puro reflexo automático. Uma coreografia que não uniu a Arábia Saudita e o Irã, que continuarão a disputar espaço político por outros motivos. Vocês podem argumentar que o Conselho de Segurança se reuniu por causa da cretinice de Trump. Mas os Estados Unidos têm lá dentro o poder de veto. Trump é um irresponsável. Mas desta vez ele criou muito mais fumaça do que fogo. O jornal israelense Haaretz diz que ele agiu sob a pressão de grupos evangélicos, que querem que os judeus tomem conta de Jerusalém, à espera da volta de Jesus. Será que Trump acredita nisso? Acho que não. Mas ele deu uma piscada barulhenta para essa ala pequenininha e conservadora dos protestantes. De concreto, a mudança da embaixada americana para Jerusalém começará só daqui a dois anos. E não servirá de exemplos para outros governos. A República Tcheca disse ontem que poderia ir atrás, mas hoje, ainda bem, mudou de ideia. É assim que o mundo gira. Boa noite.
