Quem diria, que o parlamentarismo, responsável pela estabilidade política da Alemanha, inventou agora de mergulhar o país na crise mais chata desde 1949. Vamos recapitular. As eleições legislativas foram no final de setembro. E na noite de anteontem, foram rompidas as negociações para a formação de um novo governo. A ruptura partiu do partido liberal, que elegeu 80 dos 709 deputados. Ele inventou de última hora que não concordava com os sociais-cristãos, da chanceler Angela Merkel. O pretexto era a imigração e a política energética do governo. O partido de Merkel é o maior da Alemanha, com 246 deputados. O plano era fazer uma coalizão, também com os 67 deputados do Partido Verde. O presidente da República, que manda muito pouco, e que se chama Frank-Walter Steinmeier, convocou hoje os sociais-cristãos, os liberais e os verdes, e procurou convencê-los a voltar à mesa de negociações. Se não der certo, existem agora duas possibilidades. Ou Angela Merkel desiste de chefiar um novo gabinete, e os sociais-cristãos indicam outra liderança. Ou então a chanceler continua no comando do partido, e novas eleições serão convocadas para o começo do ano que vem. O curioso, nisso tudo, é que a crise não foi nem remotamente provocada pelos nacionalistas da extrema-direita, do partido AFD, que elegeu 94 deputados. Eles são hoje na política alemã uma espécie de bancada dos leprosos. Ninguém quer ficar perto deles. O que é ótimo. E existe ainda a torcida de dois governos estrangeiros, para que Angela Merkel quebre a cara e se aposente, depois de 12 anos na chefia do governo da Alemanha. Essa torcida vem do americano Donald Trump e do russo Vladimir Putin. Mas com relação a isso eu estou tranquilo. É claro que os dois não votam, e ainda por cima têm uma influência muito pequena sobre os eleitores alemães. É assim que o mundo gira. Boa noite.