Já são no mínimo 23 os países que desde ontem anunciaram a expulsão de diplomatas russos. A Otan, que é a aliança militar ocidental, seguiu hoje o mesmo exemplo. A reação mais dura partiu dos Estados Unidos, com a expulsão de 60 diplomatas. Essa história precisa ser contada em dois planos. O primeiro plano é o da solidariedade do ocidente com o Reino Unido. A Rússia, e só pode ter sido ela, usou armas químicas para tentar matar um ex-espião dela, Serguei Skripal, que estava exilado na Inglaterra. Skripal está com sequelas gravíssimas, e dificilmente voltará ao estado de consciência. Esse atentado violentou a soberania britânica. Mas há um segundo plano de toda essa história. E me perguntem se o presidente russo, Vladimir Putin, está deprimido e infeliz. Pois ele não está. Ao contrário, ele comemora e já deve ter aberto caixas de champanha. Putin está interessado, em alimentar a tese de que a Guerra Fria está renascendo das cinzas da finada União Soviética. Os ultranacionalistas russos sempre apoiaram Putin e o farão por razões agora maiores, diante da narrativa de que o país está sendo hostilizado e agredido. A tensão faz Putin se fortalecer. É a mesma lógica que existia durante o comunismo de Joseph Stalin. A Rússia já sofre muito com as sanções econômicas, que o ocidente decretou contra ela em 2014, depois que ela anexou a Crimeia, uma península que pertencia à Ucrânia. Existem os conflitos “normais”, entre a Rússia e os Estados Unidos, como na Guerra da Síria. Mas esses conflitos são insuficientes para manter a tensão a um nível elevado. Nessa lógica, ninguém pensa por lá na proximidade da Copa do Mundo. Só com muitíssima tensão é que o cidadão russo, corre para se abrigar debaixo das asas de um governante enérgico e forte. Foi por causa disso que, há dez dias, Vladimir Putin foi reeleito com 76% dos votos. Putin é um personagem diabólico, que, sem querer, o ocidente agora ajuda a fortalecer ainda mais. É assim que o mundo gira. Boa noite.