Vocês nunca viram uma ditadura perder eleição, não é? Elas convocam o eleitor apenas para ganhar um verniz de legitimidade. Pois é o caso da Venezuela, neste domingo. Nicolas Maduro quer mais cinco anos como “presidente”. O governo dele não aceitou o registro dos partidos da oposição. Então esses partidos defendem a abstenção, já que o voto não é obrigatório. Mas o governo encontrou um dissidente para fazer a figuração. É Henri Falcón, um militar da reserva e ex-governador do estado de lara. Eis que a última pesquisa do mais sério dos institutos de opinião, o Datanálisis, diz que Maduro perderia para Falcón por dez pontos percentuais. Isso se a abstenção não for muito alta. O governo então preparou uma vergonhosa operação de fraude. O presidente da Colômbia denunciou que Maduro está recrutando colombianos da fronteira, e chamando essa gente para votar. Não existe na Venezuela justiça eleitoral, e a fiscalização é feita por um órgão do governo. Basta enxertar nas urnas cédulas em nome de quem ficou em casa. E existe também a troca de voto por alimentos. Nesse país que os bolivarianos levaram ao colapso econômico, um quarto da população só come uma vez por dia. Existem centros que vendem cesta básica a preços subsidiados. Mas, para comprar, é preciso ter um cartão. Para todos os beneficiados, esse cartão vence neste domingo. E precisa ser renovado em centros instalados ao lado dos locais de votação. Isso sem falar no transporte gratuito, providenciado para o eleitor. Maduro não permitiu a entrada de observadores internacionais. O governo poderá roubar à vontade para reelege-lo ditador. Ele só tem o apoio de um quinto da população. Na Venezuela crianças morrem de fome. Com a inflação de 14 mil por cento ao ano, um litro de leite custa duas semanas de salário mínimo. O governo de um país como esse seria normalmente enxotado com um pé no traseiro. Mas a ditadura venezuelana já criou todo um roteiro para permanecer no poder. Uma pena. É assim que o mundo gira. Boa noite.