Quero falar sobre a prisão de presidentes da república. O caso de Luis Inácio Lula da Silva é mais comum do que se pensa. Vou citar dois que aconteceram hoje, sexta-feira. Na África do Sul, foi indiciado por corrupção o ex-presidente Jacob Zuma. Ele governou o país de 2009 ao ano passado. Está envolvido num esquema de propina na compra de armas por 2 e meio bilhões de dólares. O segundo caso aconteceu na Coreia do Sul. A ex-presidente Park Geun-hye foi condenada hoje a 24 anos de prisão. Ela sofreu impeachment no ano passado, porque comandou um esquema de extorsão. Vejamos um caso mais antigo, aqui ao lado da gente, no Peru. Alberto Fujimori, que foi presidente e ditador durante dez anos, foi condenado a 25 anos de prisão porque criou esquadrões da morte, mandou matar adversários e esterilizar milhares de mulheres. Fujimori foi anistiado este ano. Esses casos servem para relativizar o que agora acontece com o ex-presidente Lula. O caso dele se mistura e se dilui entre outros precedentes. Mas há uma questão. Por que é que Lula é mesmo assim importante? O nome dele surgiu nos anos 80 como líder sindical e fundador do Partido dos Trabalhadores. Ele formava uma dupla, naquela época, com o polonês Lech Walesa. Lula se opunha como homem de esquerda à ditadura militar brasileira. Walesa fundou na Polônia um sindicato independente, o Solidariedade, que resistia à ditadura comunista que existia no país dele. Na mídia e entre os intelectuais, Lula e Walesa eram uma dupla providencial. Era possível cultivar um progressista e um anticomuniusta. Os dois depois viraram presidentes da república Lech Walesa saiu da cena política. Mas Lula, não. E um último detalhe importante. O jornal frances que mais abriu espaço para Lula, o Le Monde, não acredita mais hoje que Lula seja um mártir. Escreveu com todas as letras que ele sucumbiu à corrupção. É assim que o mundo gira. Boa noite.