Há algo de novo no Oriente Médio, e esse novo tem nome e sobrenome. Ele se chama Mohammed bin Salman, mais conhecido pela sigla MBS. É o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, de apenas 32 anos, que deu ontem mais um passo para a abertura diplomática de um país em que ele já é até mais influente que o rei. MBS afirmou para a revista americana The Atlantic, que Israel deve ter seus direitos reconhecidos. E deu a entender que Israel e Arábia Saudita poderão ter relações diplomáticas. O príncipe MBS está por trás de decisões importantes, como a prisão por algumas semanas de dezenas de primos dele, envolvidos em corrupção. Ou da autorização para que as mulheres sauditas possam finalmente dirigir automóveis. O gelo nas relações com Israel já vem sendo quebrado há algum tempo. A Arábia Saudita autorizou que aviões israelenses sobrevoem o território dela. Mas, por favor, não entendam os gestos do príncipe herdeiro como uma prova de generosidade, para arejar a monarquia que é uma das ditaduras mais fechadas e conservadoras do mundo islâmico. Israel e Arábia Saudita têm hoje um inimigo comum, que é o Irã. Caso o Irã se transforme em grande potência regional, sauditas e israelenses estarão correndo um sério risco. Até há 15 anos esse problema não existia, porque o Iraque também disputava a hegemonia, e o ditador iraquiano, Saddam Hussein, era um aliado dos sauditas. Mas os Estados Unidos invadiram o Iraque, cruzaram os braços para o enforcamento de Saddam, e a disputa pelo controle do Oriente Médio e do Golfo partiu da estaca zero. O Irã saiu fortalecido da guerra civil da Síria, onde a milícia xiita que ele patrocinou, o Hizbollah, foi em grande parte responsável pela sobrevivência da ditadura de Bashar al-Assad. A Arábia Saudita e Israel ficaram de olho. E sabem que, se não enfraquecerem o Irã, poderão virar a bola da vez. É por isso que os dois países agora esboçam uma aliança que seria inconcebível uma década atrás. É assim que o mundo gira. Boa noite.
