Então o terrorismo atacou mais uma vez, hoje na França. Não foi nada tão dramático quanto o atentado de 2015, na casa noturna Bataclan, em Paris, que deixou 130 mortos. Nem o atentado no ano seguinte numa praia de Nice, em que o terrorista atropelou e matou 86. O atentado de hoje nas cidadezinhas de Carcassonne e Trèbes deixou apenas três mortos. E o criminoso, de 26 anos, disse pertencer ao grupo terrorista Estado Islâmico. O importante não é o número de vítimas. É o fato de um país como a França continuar vulnerável. Desde 1986 o país tem uma divisão especial da polícia, especializada na prevenção ao terrorismo. E também tem um juiz de direito que acompanha as investigações e determina a prisão de suspeitos. Mesmo assim, o terrorista chamado Redouane Laktim fez reféns num supermercado, matou e acabou sendo morto por policiais. A França toma dois cuidados que também existem na Inglaterra e na Alemanha. De um lado, é preciso vigiar a comunidade muçulmana para identificar núcleos de extremismo religioso. De outro lado, é preciso impedir que o medo do terrorismo acabe criminalizando toda essa comunidade numerosa e, com isso, também acabe alimentando o preconceito. É uma operação delicada, e eu acredito que a população esteja reagindo de modo positivo. Os dois principais fatores que alimentaram o racismo na França foram a dominação política da África do Norte, que considerava os árabes da Argélia ou do Marrocos como seres humanos inferiores. E o segundo fator foi a guerra da Argélia, que a França perdeu e que permitiu aos argelinos chegarem à independência. Mas as novas gerações só conhecem essas coisas pelos livros de história. Para os que têm menos de 50 anos, o preconceito só pode entrar pela porta do terrorismo islâmico. Mas o sistema educacional francês tem sido hábil e inteligente para evitar generalizações. Tomara que continue a dar certo. É assim que o mundo gira. Boa noite.