A crise mais severa está ficando pra trás, como disse o presidente Temer. Mas estamos longe de uma retomada mais consistente. A economia está se recuperando em ritmo bem lento, que pode ficar mais lento com a crise política, que o presidente, no exterior, está querendo fazer de conta que não existe. Ele viajou. Mas a crise ficou e com mais incertezas. Basta ver como o noticiário econômico está focado na queda da inflação, dos juros e nas reformas. O Banco Central, no relatório trimestral, prevê inflação de apenas 3,8%, este ano, e abaixo da meta, também, no ano que vem. Manteve a previsão de expansão de 0,5% da economia, mais pelo crescimento do PIB no primeiro trimestre, os dados de atividade de abril e do começo de maio. Depois houve um divisor de águas: a delação da JBS, que jogou incertezas no cenário político, ao envolver, diretamente, o presidente Temer. E isso pode atingir a economia. De um lado, pelo impacto que pode ter na confiança e nos investimentos. Os agentes econômicos vão adiando decisões à espera de uma definição de cenário. De outro, pelo comprometimento das reformas. Voltamos, na política, ao ponto que estávamos pouco mais de um ano atrás, sem saber se o presidente fica ou não fica, e, ficando, se terá governabilidade. Isso já está tendo influência no andamento das reformas. Por mais que o governo tente minimizar a derrota com a rejeição da reforma trabalhista pela Comissão de Assuntos Sociais, foi uma indicação de perda de força. Perdeu votos na própria base. Se a reforma trabalhista, que tem menos resistência, está enroscando, as dificuldades devem ser maiores com a da Previdência, mais importante do ponto de vista de ajuste das contas públicas e a que enfrenta maior oposição. Sendo que é a que vai mexer mais com a confiança, a atração de investimentos, o comportamento do mercado. Quando o Banco Central destaca as incertezas de cenário está considerando mais esse aspecto. Uma trava nas reformas pode ter impacto bem negativo sobre a economia, podendo mexer até com a inflação, se o dólar ficar mais pressionado. É por isso que, mesmo num ambiente de atividade ainda fraca e inflação baixa, cogita a redução do ritmo de corte dos juros. Que pode não acontecer se não houver surpresas mais negativas até a próxima reunião do Copom, em julho. Eu volto na segunda. Até lá.