Não foi exatamente surpresa o adiamento da votação da Previdência. O governo estava com muita dificuldade pra conseguir os 308 votos na Câmara. Pra não sofrer uma derrota, que seria pior, o governo marcou a votação pra fevereiro, possivelmente, dia 19. Se, até lá, tiver os votos que estão faltando. Mas quer manter as expectativas em alta, pra minimizar reações negativas, como do mercado financeiro. Só que se a conversa ficar mesmo pra 2019, como já se especula, o mercado pode ficar bem mais pressionado, com alta do dólar, que atrapalha a inflação, que compromete a manutenção de juros básicos mais baixos. As negociações prosseguem. Já se fala em uma transição para os servidores contratados antes de 2003, como dos trabalhadores do setor privado. É importante que não ceda demais. Primeiro porque igualar as condições da aposentadoria do setor público e do privado é um dos principais argumentos pra obter maior apoio da sociedade. Depois, porque, se continuar cedendo, vai reduzir ainda mais o resultado que se espera da reforma em termos financeiros, na redução do ritmo de aumento das despesas. Agora, mesmo ainda fazendo esforço pra aprovar a reforma, pode não evitar algumas consequências negativas. Além da reação do mercado, as agências de classificação de risco voltaram a alertar sobre possíveis novos cortes da avaliação do Brasil, o que pode encarecer a captação de recursos, reduzir fluxo de investimentos. Os empresários tendem a ficar mais cautelosos, no aguardo de alguma coisa mais concreta. O fato é que a situação fiscal do País é muito grave. Ontem foi aprovado o orçamento de 2018, já respeitando a PEC dos Gastos, que determina que as despesas não possam crescer mais que a inflação do ano anterior – o que limita esse aumento a 3% no ano que vem. Só que mesmo segurando os gastos e contando com receita maior, em função de uma esperada expansão mais forte da atividade, o orçamento prevê um déficit de 157 bilhões de reais. Abaixo da meta, mas absurdamente ruim. E o próprio crescimento pode sentir algum impacto de um fracasso da reforma. O governo até está melhorando as projeções nesse sentido. Hoje o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou a elevação de 0,5 para 1,1% da projeção de crescimento este ano, e de 2 para 3% do ano que vem. Previsões um pouco acima das do mercado e até do próprio orçamento. Mas 2018 vai depender muito do que se possa esperar do ajuste das contas, além, é claro, do quanto que as eleições poderão interferir nas expectativas. Boa noite.