Denise Campos de Toledo/Mais um ano de um rombo nas finanças do país

Por 28 de dezembro de 2017Jornal da Gazeta

A meta deste ano, de um déficit de 159 bilhões de reais, vai ser cumprida. Mas isso não significa um grande avanço no gerenciamento das contas. Mesmo com corte de gastos e receitas atípicas, como Refis, repatriação de recursos, concessões, vai ser mais um ano de um imenso rombo das finanças, de incapacidade de gerar superávits para barrar o aumento da dívida pública, que já representa 74,4% do PIB. Apesar do impacto positivo da inflação e dos juros básicos mais baixos sobre o aumento dessa dívida. E pra 2018 está previsto um cenário bem parecido. A meta vai ser a mesma, com o governo ainda tendo de se virar pra garantir esse resultado. O esperado crescimento maior da economia, que deve reforçar a geração de impostos, já não vai ser suficiente pra assegurar um reequilíbrio. O que mais poderia ajudar seria a Reforma da Previdência, responsável pela maior fatia do rombo, com gastos que representam 14% do PIB e tendência de continuarem aumentando muito acima da inflação. É o que faz com que a reforma seja imprescindível. Mas só a reforma, é importante ressaltar, não vai ser a solução. Principalmente, porque, se aprovada, não terá o alcance necessário. Já foi bem abrandada e ainda se discute, agora, um gradualismo maior na aplicação das mudanças para o funcionalismo, que é o que mais pesa nas despesas da Previdência. Tem muito servidor que ganha muito pouco em áreas prioritárias. Não há dúvida quanto a isso. Estou falando dos privilegiados das várias áreas do governo, do Judiciário, do Legislativo, que já têm salários muito acima da média e depois também recebem benefícios bem superiores ao teto do setor privado. A reforma, pra ser eficaz, em princípio tem de estabelecer uma situação mais equalitária, depois o aumento do período de contribuição e da idade mínima. Mas é preciso ir além da Previdência. Há necessidade de uma redução da folha de salários, de desperdícios, de gastanças com mordomias. Ainda tem a corrupção, o desvio de verbas, que não parou, mesmo com todas as investigações em andamento. Toda hora surge um novo caso. E tem as desonerações, incentivos equivocados, ineficiência na aplicação dos recursos. Sem uma revisão geral dos gastos públicos, com a reforma da Previdência, podermos chegar uma situação insustentável, que pode levar até a uma reversão do processo de retomada do crescimento, com estabilidade. No próximo ano a situação ainda vai ser administrável. Há risco de rebaixamento da nota de avaliação do Brasil, por essa situação fiscal, de uma maior instabilidade do mercado, do dólar, com alguma pressão sobre a inflação… Mas a economia entrou num embalo ciclico de mais crescimento que parece garantido. A expansão pode ser menos ou mais intensa, mas vai ser maior que deste ano. O problema ficaria para o próximo governo, que teria de propor ajustes ainda mais sérios, para não deixar o País entrar, de novo, numa situação de crise. Não tem muito como fugir desses ajustes. A agenda está colocada. Sem isso a economia não volta para os trilhos. Boa noite.