Denise Campos de Toledo/Governo impopular, agenda complicada

Por 27 de novembro de 2017Jornal da Gazeta

O governo tem feito todo um esforço para sensibilizar os congressistas, não só a sociedade, quanto à gravidade do quadro fiscal. Claro que quando se fala em ajuste das contas públicas é quase inevitável deixarmos de pensar na corrupção, no desvio de recursos, na ineficiência. Mas o fato é que a situação é grave mesmo. E são dois focos de preocupação. De um lado, tem a urgência na aprovação da reforma da Previdência, cujas despesas representam 14% do PIB. Com as alterações na proposta, a reforma, se aprovada, poderá assegurar pouco mais da metade do que se previa em termos de redução das despesas. Mesmo assim, já traria algum alívio na evolução das contas públicas. Sem mudanças, a Previdência pode acabar inviabilizando até a PEC dos Gastos, um dos principais avanços nos últimos tempos, em se tratando de ajuste fiscal. A PEC determina que as despesas do setor público não possam aumentar mais que a inflação do ano anterior. Os gastos com o sistema previdenciário têm crescido mais que o dobro. Pra respeitar a PEC e bancar a Previdência, o governo teria de desviar parcelas crescentes de outras áreas, ou abandonar essa limitação, o que seria péssimo do ponto de vista de credibilidade do País, com todas as consequências que poderia acarretar, no que se refere à estabilidade, controle da inflação, estímulo aos investimentos. Enfim, o processo de retomada da economia poderia ficar comprometido, com a dívida avançando em ritmo ainda mais acelerado do temos visto. A falta de confiança na capacidade de o governo reorganizar as finanças faz com que tenha de pagar mais para captar recursos e rolar o estoque da dívida, independentemente dos cortes da taxa básica. Mas tem o outro foco de preocupação, de mais curto prazo, que é o cumprimento da meta fiscal. Meta altamente deficitária, que prevê um rombo de 159 bilhões de reais. Rombo que o governo, para não ultrapassar, tem de garantir, também com urgência, a votação de várias medidas já encaminhadas ao Congresso. Medidas provisórias que têm prazo para serem votadas. Caso contrário, perdem a validade. E aí será preciso montar toda uma estratégia pra garantir mais receita, reduzir as despesas. Em condições normais toda essa agenda já seria bem complicada. Mas estamos falando de um governo impopular, que tem perdido base de apoio e está tratando de temas polêmicos, perto do recesso parlamentar, que vai anteceder um ano de eleições. haja articulação política e capacidade de convencimento. Eu volto na quinta. Até lá.

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