
Uma pergunta bem simples. O protecionismo comercial é uma doença econômica ou é uma doença política? A resposta mais sensata é que o protecionismo machuca a economia, mas machuca a política também. E desta vez a carapuça vai para a cabeça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele anunciou que aumentaria o imposto de importação de máquinas de lavar roupa, que chegam da Coreia do Sul, e painéis voltaicos para transformar a luz do sol em eletricidade. Eles chegam da China, que é a maior produtora mundial. No cérebro pequenininho de um governante protecionista, ele está salvando empregos e protegendo as companhias do país dele. Mas isso é apenas uma parte da questão. Donald Trump está expondo a economia americana à retaliação desses dois parceiros. Isso sem falar nos prejuízos colaterais para a diplomacia. O grande esforço militar e diplomático dos americanos consiste, hoje, em neutralizar a Coreia do Norte, e impedir que ela ameace o mundo com a bomba atômica. Mas a ditadura norte-coreana só pode ser pressionada pelos chineses e pelos sul-coreanos. Donald Trump atira no comércio, mas acaba machucando interesses estratégicos bem mais importantes. É por isso que não tem muito pé, nem cabeça, essa história de “America first”, ou os Estados Unidos em primeiro lugar, que foi em 2016 um dos temas da campanha eleitoral de Trump. Foi em nome dessa bobagem que o presidente retirou os americanos da parceria transpacífico, que era um mecanismo comercial que fortaleceria toda a Ásia na concorrência com os chineses. No mundo globalizado, não tem mais essa história de obter vantagens sobre os parceiros diplomáticos e comerciais. Juntam-se os esforços, negociam-se condições para as transações multilaterais, e todo mundo enriquece e fica feliz. Mas os Estados Unidos de Donald Trump recuaram meio século no tempo. Todos sairão perdendo, em termos comerciais. E, em termos estratégicos, o mundo estará menos seguro. É assim que o mundo gira. Boa noite.