É como se o Papa Francisco estivesse fazendo, desde ontem, duas viagens oficiais ao Chile. A primeira é aquela em que ele é aplaudido pelos católicos e pelo Governo da Presidente Michelle Bachelet. Os católicos foram hoje ao Parque O´Higgins, em Santiago, para uma missa campal que estava apinhada de gente. Mas a segunda visita do Papa é aquela que, em lugar de evocar a fé, ela acaba evocando problemas. Hoje de manhã, por exemplo, o papa fez um pronunciamento no Palácio de La Moneda, sede da presidência da república. Disse que pedia perdão pelos “danos irreparáveis”, provocados por sacerdotes que praticaram o abuso sexual. Por causa disso, afirmou que manifestava sua dor e sua vergonha. Eis que, duas horas depois, quem põe o dedo nessa ferida é uma das mulheres mais populares do Chile, a ex-Primeira Dama Marta Larraechea, mulher de Eduardo Frei, que foi presidente entre 1994 e 2000. Ela disse pelo Twitter que não acreditava nesse pedido de desculpas. Isso porque na missa campal, estava o Bispo Juan Barros. Ele era o superior hierárquico do Padre Fernando Karadima, acusado de molestar sexualmente mais de 70 crianças e adolescentes. O Vaticano puniu o padre, mas não quis punir o Bispo que tentou encobrir o escândalo. A moral da história é que o Chile é um País em que as coisas incômodas não são varridas para debaixo do tapete, em nome da boa educação ou das conveniências diplomáticas. Mas há sempre o lado showbusiness, nessa viagem de número 22 do Papa Francisco a países estrangeiros. Aliás, o sociólogo Carlos Peña, Reitor da Universidade Diego Portales, disse que Papa virou um assunto de entretenimento, num país em que as pessoas vão mais ao shopping que às igrejas. É verdade. Só 45% dos chilenos se definem hoje como católicos. Eles não perdoam a pedofilia praticada dentro da igreja, e nem o apoio velado que a igreja deu para a ditadura sanguinária do General Augusto Pinochet. E que Deus não o tenha. É assim que o mundo gira.
