O governo da Espanha amanheceu hoje com um sério problema. O primeiro-ministro Mariano Rajoy esperava que os separatistas da Catalunha seriam enterrados depois da votação desta quinta-feira. Não foi o que aconteceu. Embora o partido mais votado tenha sido o cidadãos, que é liberal e defende a permanência da Catalunha na Espanha, os separatistas tiveram cinco cadeiras a mais no parlamento regional, que tem 135 deputados. O que vai acontecer agora? Os envolvidos deverão negociar. Independência é o que não pode ser. Para isso, os separatistas precisariam ter eleito dois terços dos deputados. E só assim poderiam convocar um referendo. Rajoy e o líder separatista Carles Puigdemont tendem a chegar a uma solução de compromisso para dar maior autonomia à Catalunha. Mas, aqui entre nós, essa autonomia já é enorme. A região tem 16% da população espanhola. Mas é responsável por um quarto das exportações e um quinto do PIB. Vejamos um pouco de história. Em 1936, quando estourou a guerra civil, a Catalunha era bem autônoma. Mas os fascistas de Francisco Franco ganharam a guerra e enquadraram os nacionalismos que cresciam dentro da Espanha. Até 1975, quando o ditador morreu, não se ensinava a língua catalã nas escolas, não havia programas de televisão em catalão, e os jornais só eram impressos em castelhano. Tudo mudou com a constituição de 1977. A Catalunha tem mais autonomia dentro da Espanha que o estado de São Paulo, aqui no Brasil. Mas os separatistas queriam mais. Eles trombaram com a ideia de abolição das fronteiras, que estava por trás da construção da União Europeia. Mas eles deram agora uma demonstração de força. E a Espanha será obrigada ceder mais um pouco. E agora me perguntem se é isso que os espanhóis estão discutindo nas ruas, no trabalho e em casa. A resposta é… Não. O assunto do dia é o gordo. Gordo é o nome da loteria de Natal. E é desde o meio-dia a manchete de toda a imprensa espanhola online. É assim que o mundo gira. Boa noite.