Neste ano, a inflação caiu rápido e bem além do esperado. Isso acabou dando uma ajudazinha extra no poder de compra dos salários e dos rendimentos em geral. No ano que vem, deve ser diferente. Talvez o contrário.
Vamos entender essa história. Vamos pegar o exemplo do salário mínimo. No começo deste ano, o salário mínimo foi reajustado em 6,5%. Esse reajuste era apenas a compensação da inflação do ano de 2016, é verdade. Não era aumento real.
No entanto, como a inflação deste ano subiu muito pouco, os salários mantiveram seu poder de compra. Neste ano, a inflação medida pelo INPC deve subir só 2,5%. Então, para um reajuste de 6,5% em janeiro, houve inflação de apenas 2,5%. O INPC é o índice que mede a inflação de quem ganha até cinco salários mínimos.
Em janeiro, o salário mínimo vai ser reajustado em 3%. Mas a inflação prevista para 2018 é de 4,5%, pelo INPC. Ou seja, os preços vão comer todo o reajuste do salário. Vai ser o contrário deste ano.
Os reajustes do salário mínimo também corrigem os benefícios da Previdência, do INSS, e outros benefícios sociais do governo. Mais de 31 milhões de pessoas recebem esses benefícios.
A inflação baixa deste ano também vai influenciar as negociações salariais de quem ganha mais do que o mínimo. Os reajustes devem ser menores.
Logo, vai haver uma pressão para baixo nos salários.
É óbvio que é melhor ter inflação baixa e estável. É verdade que importante mesmo é ter reajuste real, ganho além da inflação. Mas é mais difícil haver ganho real quando a economia cresce pouco, há muito desemprego e muita gente com medo de perder o trabalho.
Foi o caso deste ano de 2017. A melhora salarial em grande parte veio da queda da inflação, não de crescimento econômico maior e queda do desemprego.
A gente espera que 2018 seja um ano de crescimento econômico maior. Mas essa vantagem da queda rápida da inflação a gente não vai ter.