Há exatamente um século, nesta terça-feira, os comunistas tomavam o poder na Rússia. A União Soviética só desmoronou em 1991. Foram 74 anos em que o mundo ficou dividido. Capitalismo de um lado, socialismo do outro. Os comunistas se viam como um modelo mais igualitário e generoso de organização da sociedade. Mas foi muito mais dramático que isso. Em verdade, eles construíram uma ditadura que se manteve pela violência e pelo terror. Os historiadores acreditam que 30 milhões de soviéticos tenham sido mortos por um governo que deveria protege-los. Entram nessa conta os 860 mil fuzilados entre 36 e 38, na maior onda de repressão do ditador Josef Stalin. E foram também os seis a oito milhões, que morreram de fome, depois da coletivização forçada da agricultura, no começo dos anos 30. E ainda outros milhões que morreram em campos de trabalho forçado. O comunismo foi uma aberração em termos de direitos humanos. Quem não morria vivia aterrorizado pelo medo. O comunismo soviético foi também uma moeda com duas caras em termos de tecnologia e progresso material. De um lado, o país construiu um exército poderoso, que derrotou sozinho os nazistas na Europa oriental. Foram também soviéticos o primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957, e o primeiro homem a entrar em órbita ao redor da terra. Yuri Gagarin, em 1961. Mas o outro lado da moeda é que a economia planejada nunca funcionou. Faltava de tudo, e para tudo havia fila e racionamento. Não adianta hoje lembrar que os comunistas acabaram com o analfabetismo, que as crianças eram ótimas em matemática, que o ensino da música era obrigatório, e que nenhum outro país vendeu tantos livros por habitante. Mas faltava liberdade. Era bem mais que um detalhe, o que parte da esquerda mundial não queria enxergar. A opressão política tem um peso insuportável. E no caso soviético, foi uma opressão acompanhada de fuzilamentos e muito sangue. A União Soviética não deixou saudades. É assim que o mundo gira. Boa noite.