Falar que a crise acabou, com o desemprego que atinge mais de 13 milhões de brasileiros, os recordes de inadimplência da micro e pequenas empresas, e o brutal rombo das contas públicas, parece um pouco de exagero. Mas, o pior já passou. Temos inflação sob controle, juros em queda, retomada de atividade, do emprego. A questão é que os efeitos da crise ainda estão por aí. Para quem está desempregado, não adianta falar em queda da inflação. E a inflação está baixa, depois de subido muito, por muito tempo, afetando o poder de compra até de quem não perdeu o emprego. O consumo começa a reagir, mas a instabilidade da reação complica a situação dos empresários que não tinham reserva financeira. As empresas, pelo risco de crédito, têm dificuldade até pra conseguir capital de giro. A ociosidade ainda é grande, principalmente, na indústria, segurando uma maior oferta de vagas, além de desestimular investimentos. Por outro lado, as contas públicas continuam com imensos déficits, o que reduz o potencial de investimentos também do governo. Há cortes até em áreas prioritárias. Em setembro o déficit do setor público chegou a 21 bilhões e 260 milhões de reais. No ano, passa dos 82 bilhões e cem milhões. Se incluirmos gastos com juros, em 12 meses, soma 567 bilhões e meio de reais. Por tudo isso, a saída da crise bem gradual. E não adianta o governo tentar criar maior ânimo com discurso, porque cada um sabe o que está sentindo. O consumidor sente no bolso o quanto que a situação está ou não melhorando, assim como os empresários sentem isso no caixa. O que o governo tem de fazer é insistir nas medidas que podem garantir o ajuste fiscal, a redução da dívida, gerando maior confiança. Confiança que estimula investimentos, a geração de emprego, ajudando a economia a crescer mais. As concessões na infraestrutura vão nesse sentido. Agora, não dá pra afrouxar o cinto. Só com austeridade é que se pode garantir, de fato, a reversão da crise e as condições para um crescimento sustentável de longo prazo. O que gera desconfiança nesse processo é que o governo Temer, mesmo com os resultados que tem obtido no plano econômico, também tem a marca da corrupção, faz concessões pra se manter, o que até atrapalha o encaminhamento da agenda econômica. Há muita desconfiança quanto ao espaço político para mais avanços, especialmente no que se refere ao ajuste das contas. Eu volto na quinta. Até lá.