Com o presidente Temer livre da segunda denúncia apresentada pela Procuradoria, o governo quer retomar a agenda econômica, com prioridade para a reforma da Previdência E tem pressa, porque sabe que vai ser mais difícil tratar de um tema tão polêmico em um ano de eleições. Mas há muita dúvida quanto à condição para o avanço da reforma mesmo agora. Temer saiu vitorioso na votação de ontem, só que, apesar de todas trocas de favores e concessões, como a sanção do Refis e a exclusão de Congonhas da lista de aeroportos que serão privatizados, por pressões de políticos, teve um placar menos favorável do que na primeira denúncia. Conta com menos apoio político. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, assumiu um discurso favorável à agenda econômica, inclusive, à aprovação da idade mínima para a aposentadoria e ao aumento da contribuição do funcionalismo. Parece querer o protagonismo de mudanças que garantam um maior crescimento da economia. Mas é a capacidade de articulação do governo que vai dar condições pra qualquer avanço mais significativo. E há muita desconfiança quanto a essa capacidade. Tanto que o mercado teve hoje um movimento pesado. A Bolsa caiu. O dólar subiu mais de 1% para 3 reais e 28 centavos. Teve influência de fatores externos. Só que refletiu muito o placar mais magrinho da votação a favor do governo. Acendeu a luz amarela. A torcida é para que se garanta logo uma condição melhor para as finanças da Previdência para que isso não dependa tanto do futuro governo, que pode ter postura mais populista, menos focada no ajuste fiscal. As contas públicas são um entrave sério quando se pensa num crescimento sustentável. Hoje mesmo o governo divulgou um déficit de 22 bilhões e 725 milhões de reais em setembro, atingindo no ano um saldo negativo recorde em mais de 108 bilhões e meio de reais. Esse saldo inclui as contas do Tesouro, do Banco Central e da Previdência, que, sozinha, acumula desde janeiro um rombo de mais de 141 bilhões. Esses números mostram bem a importância de uma mudança estrutural nas contas da Previdência pra que se possa executar um ajuste fiscal mais consistente. A retomada do crescimento está dada, com inflação baixa, juros básicos que podem chegar a 7% em dezembro, o menor nível já registrado, o desemprego vai cair mais daqui pra 2018. Mas é um processo que não se sustenta sem a correção de rota das contas públicas. Esse é o grande desafio. Eu volto na segunda. Até lá.