A situação na Venezuela está quente nesta sexta-feira. As ruas de Caracas foram bloqueadas por manifestantes, convocados pelos partidos de oposição. É o que eles chamam de “trancazos”. Trancam tudo. São três os motivos para a mobilização. Primeiro, foi assassinado, ontem, do manifestante de número 75, desde o recomeço dos protestos, no final de março. A vítima foi um enfermeiro de 22 anos, atingido por tiros que partiram de um quartel da aeronáutica. A cena foi presenciada por um repórter da agência espanhola EFE. O segundo motivo está na manobra do governo, para eleger, em 30 de julho, uma “Assembleia Constituinte”. Os eleitores escolheriam apenas uma parte dos deputados. Mas o controle virá de pelegos, indicados por entidades ligadas ao ditador Nicolas Maduro. O terceiro e último motivo está na manobra da ditadura, para afastar a procuradora-geral da República. Ela se chama Luísa Ortega Diaz. Luísa já foi mulher de confiança do chavismo. Mas trombou com o governo, ao tentar barrar uma das manobras de Maduro, que queria, há alguns meses, acabar com o parlamento, onde o governo tem só um terço das cadeiras. Vejam que em 2014, a oposição também foi às ruas. Mas depois de três semanas, a mobilização enfraqueceu. Ela agora ocupa as principais cidades da Venezuela, há mais de 80 dias. A repressão tem sido violenta. Além dos 75 mortos até ontem, três mil e duzentas pessoas já foram presas, e trezentas e setenta foram submetidas a tribunais militares. Eu já contei para vocês que um militar da reserva, que foi por duas vezes ministro do finado Hugo Chávez, alertou que as forças armadas estão divididas. E agora também surgiu a notícia de um racha num outro pilar da ditadura bolivariana. São os sindicatos. Ontem, em Paris, Carlos Navarro, que é presidente de uma confederação que já foi ligada ao regime, deu uma eloquente entrevista coletiva. Disse que a Venezuela está caindo aos pedaços. E eu acrescento. A ditadura está também prontinha para cair. É assim que o mundo gira. Boa noite.