Vamos imaginar o seguinte. São Paulo é estado mais rico do Brasil. Paga para o governo federal mais impostos do que recebe de volta. Decide então declarar a independência. Tenta fazer um plebiscito. O governo federal não deixa, e está armada a confusão. Essa histórinha de mentira está acontecendo de verdade na Espanha. A Catalunha tenta votar neste domingo, para se tornar independente. Acontece que a constituição espanhola, de 1978, tem uma cláusula pétrea igual à da constituição brasileira. O país é indivisível. O Tribunal Constitucional da Espanha decidiu que o plebiscito é ilegal. E o governo de Madri partiu por cima dos separatistas. Prendeu 14 e capturou 10 milhões de cédulas. E está enviando tropas federais para impedir a abertura dos locais de votação. O governo de Madri foi truculento, e isso provocou simpatias internacionais em favor dos catalães. Eles podem crescer se levarem bordoadas. É o que no fundo eles estão querendo. A única pesquisa isenta, publicada em julho, diz que 41% querem sair da Espanha. Mas que 49% querem ficar. Essa história é muito complicada. A Espanha é uma democracia. Ela não exerce opressão econômica ou cultural contra a Catalunha. A TV pública em Barcelona tem a metade de seus programas falados em catalão. Todas as escolas ensinam e valorizam o idioma catalão. A Espanha faz a mesma coisa com o País Basco, com a Galícia e com as 17 comunidades autônomas. A Espanha é uma federação de culturas e nacionalidades. A Catalunha tem um parlamento regional, manda na sua própria polícia e arrecada seus próprios impostos. Vejam, então que no fundo essa história de independência é uma grande bobagem. A não ser que ela se inspire no mesmo nacionalismo da direita americana, que elegeu Donald Trump, ou no nacionalismo alemão, que há dias transformou os extremistas de direita no terceiro maior partido do país. Vamos então devagar com esse andor. Porque o santo é de barro. É assim que o mundo gira. Boa noite.