Então os alemães votam neste domingo. Aliás, já começaram a votar. Um terço dos votos já foi enviado pelo correio. E não haverá nenhuma surpresa. A CDU vai ganhar. É o partido da chanceler Angela Merkel, que receberá 36% dos votos. Ela já governa a Alemanha há 12 anos, e terá um quarto mandato, agora até 2021. Mas existem duas outras informações embutidas nesse resultado. A primeira está no desempenho ruim do partido Social-Democrata, liderado por Martin Schulz. A identidade política do SPD virou água morna. As propostas do partido se confundem com o centro-direita da CDU. A Alemanha vive uma espécie de consenso criado pela riqueza. É o país que encabeça a União Europeia. Ganha mais dinheiro e tem produtividade maior que a França e que a Inglaterra. Isso prejudicou a diferenciação ideológica. A CDU andou para o centro, e ocupou um espaço que o SPD agora não pode mais ocupar. Mas os dois partidos já formam uma coalizão, e governam juntos o país. A eleição tem um segundo resultado embutido. Os racistas de extrema-direita, de um pequeno grupo chamado AFD, cresceram e podem ter de oito a 12 por cento dos votos. Com isso, vão superar a cláusula de barreira de 5%, e terão bancada própria na Câmara dos Deputados. O AFD é contra os muçulmanos, e difunde o medo aos imigrantes. E não são imigrantes muçulmanos que faltam na Alemanha, depois do um milhão de refugiados sírios que, há dois anos, Merkel aceitou receber. Esses imigrantes não ameaçam a riqueza de um país com 80 milhões de habitantes. Também não ameaçam a identidade cultural alemã. Mas não existe racionalidade no racismo. Os racistas pensam com o fígado e produzem ódio. O AFD é um partideco aberto aos alemães que não acreditam no aquecimento global, e que acham que, com relação ao nazismo, há exagero na narrativa sobre o holocausto. Mas a democracia na Alemanha é muito sólida. Ela não corre perigo com a entrada desses extremistas na vida parlamentar. É assim que o mundo gira. Boa noite.